HELLs Dance Corporation
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
domingo, 30 de novembro de 2014
Hell...
Hell's
Dance Corporation inaugura a parceria entre os artistas Elenita Queiroz e Edson
Calheiros.
Neste
projeto os artistas se dedicam à pesquisa sobre os mecanismos de acionamento dos
impulsos de movimento e suas possibilidades de desdobramentos da ação física, tendo
como perspectiva dramatúrgica as relações imbricadas no embate entre os corpos.
MAIS
Os anos oitenta são chamados
por muitos de “década perdida”, por suceder a períodos de grandes mobilizações
sociais e políticas, e, ao contrário destes, de ser uma década em que
culturalmente o individualismo, nas facetas do consumo e do hedonismo, ganhou as
mentes em escala jamais antes vista. Por outro lado, é quando a indústria
cultural, que já vinha em um processo de expansão ideológica desde os anos 60,
ganha definitivamente o cotidiano das pessoas ao redor do planeta, ao passo que
a contracultura, popular na década anterior, sai de moda como algo romântico e
ultrapassado.
Politicamente, é o momento
histórico em que o bloco socialista sucumbe à disputa internacional com o
capitalismo, o que será mais um reforço sobre a ideologia do self made man,
isto é, do pensamento de que a conquista da riqueza, do sucesso e status são as
verdadeiras metas da vida na sociedade pós-moderna, e que esta conquista
depende única e exclusivamente da disposição individual para lutar e vencer na
selva de pedra.
A relação que se assume com a
corporeidade torna-se paradoxal, uma vez que se faz um discurso liberal em
relação ao corpo e seus usos, sobretudo da artificialização de sua aparência e
funcionamento, mas também sujeita-se o corpo em ritmo cada vez mais frenético
às lógicas de troca mercadológica e à sua instrumentalização para alcançar status.
De certa forma, estas
relações refletem diretamente a contradição que existe sobre a liberdade na
contemporaneidade: se por um lado assumimos que liberdade é um ideal de vida, um
direito inalienável do ser humano, na prática nos sujeitamos à dinâmicas de
vida que revelam dois simulacros da liberdade: a livre concorrência e o livre
consumo.
Com efeito, temos o direito
de lutar para conquistar o que quer que seja, mas não nos é oferecida a opção
de simplesmente não lutar, sendo, ao contrário disso, incutida em nossas mentes
uma espécie de culpa existencial por não perseguir objetivos cada vez maiores.
O resultado disto tende a uma
existência marcada entre a alternância pelo anseio de mais do que se tem – mais
do que se precisa, de fato – e um vazio abismal por intuir que todas as opções
dadas são, na verdade, uma única, a qual acaba por não contemplar o ser humano
em sua complexidade.
Lutar, competir, conquistar,
mesmo que estejamos todos no mesmo barco. Não se sabe quem será o vencedor, mas
perder não é uma possibilidade. Vencer à qualquer custo e às custas de qualquer
um. A luta por um lugar ao sol, sob as luzes dos holofotes.
Hell surge da convergência e
entrecruzamento de dois universos coexistentes: o contexto social, cultural, e
econômico do final do século XX e as inferências que emergem da memoria afetiva
dos artistas co-criadores (deste trabalho) em relação à este período. A
investigação desta dialógica vai ao encontro de problemáticas e desassossegos
cotidianos, encontrando ecos e reverberações nos tratos contemporâneos por
todos os lados.
A proposta da pesquisa dramatúrgica
de Hell está alicerçada sobre três eixos principais: o Apocalipse - que tem origem na atmosfera de decadência e
temor com relação a possibilidade de finitude da raça humana, característico
das últimas décadas do final do século XX; o Culto ao Corpo - que trata da
busca e admiração pelo corpo escultural, super humano, jovem, belo, forte,
atlético e os desdobramentos estéticos e
comportais como o uso dos excessos
(brilhos, cores berrantes, paetês) , e o corpo como mecanismo de sedução
e erotização das relações e conquistas de espaços sociais; o Desbunde - fenômeno
próprio do abrasileiramento, ou seja, a incorporação pela indústria
cultural Brasileira (fonográfica, televisiva, cinematográfica) destes elementos.
Do ponto de vista estético,
tal trabalho se refere à busca, nos elementos da indústria cultura
massificadora, daquilo que se afirma e se interroga enquanto construção do
corpo e da subjetividade, claramente marcada pela espetacularização da vida e
das relações humanas, podendo fazer da experiência humana um simulacro de si
mesma. A institucionalização do corpo como mercadoria, isto é, como instrumento
de troca simbólica nas relações de poderes econômicos coloca-o na contramão de
sua libertação enquanto modo de ser, coisificando-o aos níveis da sensualidade
mais primitiva.
Hell... uma luta
de
Edson
Calheiros e Elenita Queiroz
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EDSON CALHEIROS
Brasileira, 34 anos, graduada em dança pela Unicamp (2003) participou de
residências artísticas no exterior (Djerassi Program - EUA, Movimiento en las
Sierras - Argentina, Atlantic Center for the Arts - EUA), ocasiões nas quais
trabalhou com profissionais como Sarah Shelton Mann, Sarah Skaggs, Eugénia
Estevez, dentre outros. Em 2006 foi contemplada pelo Programa de Ação Cultural
da Secretaria de Estado da Cultura, com o projeto solo Dream - Se sonhando o corpo fosse.... Em 2007 foi laureada com
Premio The Bessie Schunberg Memorial Endowed Fellowship, pelo trabalho
desenvolvido em Djerassi Program - EUA. De 2005 a 2010 integrou o Grupo das Excaravelhas
de dança contemporânea, com projetos contemplados por programas e prêmios como:
Cultura Inglesa Festival, Caixa Cultural, Programa de Ação Cultural, Prêmio
Funarte Petrobrás de Dança Klauss Vianna, dentre outros. Atuou como
interprete criadora no Núcleo Mercearia de Ideias em As Filhas de Bernarda - 2009, Microbiografias
Visíveis - 2012 e Nossos Sapatos
- 2013 (Programa Municipal de Fomento à Dança de São Paulo), dirigidos pelo
bailarino e coreografo Luiz Fernando Bongiovanni. É integrante fundadora do grupo de
experimentações cênicas Núcleo Mirada contemplado pelo Premio Funarte de Dança
Klauss Vianna 2011/2012 com o trabalho Epifanias
Urbanas e pelo Proac 08/2013 com o projeto Plataforma Cala, espetáculo CALA. Integra, juntamente com o artista
Edson Calheiros, o projeto Hell's Dance Corporation. Dentre os trabalhos da
artista destacam-se ainda Silêncios Humanos,
(Programa de Residências Artísticas: Ongoing Artwork Projects - Obras em
Construção, Espaço Cultural Casa das Caldeiras, 2012) e Particularidades
Moveis (Novos Coreógrafos - Novas Criações Site
Specific 2010, Centro Cultural São Paulo). É coordenadora artístico-pedagógico no Programa
Vocacional Dança (Secretaria de Cultura do Município de São Paulo) além de
ministrar cursos, oficinas e workshops na linguagem de dança contemporânea.
Diretora
teatral formada pela Universidade de São Paulo. Dramaturga com mais de 20 peças
encenadas. Pós-graduada em Jogos Cooperativos. Jurada do Prêmio Jabuti em 2013.
Dentre seus principais trabalhos e premiações estão: APCA de Melhor Direção em
1995 (PEDRO PAULO PEDREGULHO), Troféu Mambembe de Melhor Texto e Espetáculo em
1996 (UMA HISTÓRIA QUE A MANHÃ CONTOU AO TEMPO PARA GANHAR A ROSA AZUL), Prêmio
Coca-Cola de Melhor Texto em 1998 (MOBY DICK) e Cultura Inglesa Festival em
2012 (FORA DO BUMBO – O MUSICAL). Esteve em cartaz no Teatro Popular do SESI
Ruth Cardoso, em 2011, com o espetáculo AVALON, escrito em co-autoria com a
atriz Lucélia Santos. Seus trabalhos mais recentes são a ocupação COISOLÂNDIA –
LUGAR DE LIXO E AMOR no Centro Cultural São Paulo entre janeiro e março de
2014, um projeto de acessibilidade estética universal, e MUNDOMUDO com
concepção de Jorge Vermelho e direção de Georgette Fadel, uma dramaturgia sem
palavras.
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