quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014

Hell...


Hell's Dance Corporation inaugura a parceria entre os artistas Elenita Queiroz e Edson Calheiros.
Neste projeto os artistas se dedicam à pesquisa sobre os mecanismos de acionamento dos impulsos de movimento e suas possibilidades de desdobramentos da ação física, tendo como perspectiva dramatúrgica as relações imbricadas no embate entre os corpos.


MAIS
Os anos oitenta são chamados por muitos de “década perdida”, por suceder a períodos de grandes mobilizações sociais e políticas, e, ao contrário destes, de ser uma década em que culturalmente o individualismo, nas facetas do consumo e do hedonismo, ganhou as mentes em escala jamais antes vista. Por outro lado, é quando a indústria cultural, que já vinha em um processo de expansão ideológica desde os anos 60, ganha definitivamente o cotidiano das pessoas ao redor do planeta, ao passo que a contracultura, popular na década anterior, sai de moda como algo romântico e ultrapassado.

Politicamente, é o momento histórico em que o bloco socialista sucumbe à disputa internacional com o capitalismo, o que será mais um reforço sobre a ideologia do self made man, isto é, do pensamento de que a conquista da riqueza, do sucesso e status são as verdadeiras metas da vida na sociedade pós-moderna, e que esta conquista depende única e exclusivamente da disposição individual para lutar e vencer na selva de pedra.

A relação que se assume com a corporeidade torna-se paradoxal, uma vez que se faz um discurso liberal em relação ao corpo e seus usos, sobretudo da artificialização de sua aparência e funcionamento, mas também sujeita-se o corpo em ritmo cada vez mais frenético às lógicas de troca mercadológica e à sua instrumentalização para alcançar status.

De certa forma, estas relações refletem diretamente a contradição que existe sobre a liberdade na contemporaneidade: se por um lado assumimos que liberdade é um ideal de vida, um direito inalienável do ser humano, na prática nos sujeitamos à dinâmicas de vida que revelam dois simulacros da liberdade: a livre concorrência e o livre consumo.

Com efeito, temos o direito de lutar para conquistar o que quer que seja, mas não nos é oferecida a opção de simplesmente não lutar, sendo, ao contrário disso, incutida em nossas mentes uma espécie de culpa existencial por não perseguir objetivos cada vez maiores.

O resultado disto tende a uma existência marcada entre a alternância pelo anseio de mais do que se tem – mais do que se precisa, de fato – e um vazio abismal por intuir que todas as opções dadas são, na verdade, uma única, a qual acaba por não contemplar o ser humano em sua complexidade.

Lutar, competir, conquistar, mesmo que estejamos todos no mesmo barco. Não se sabe quem será o vencedor, mas perder não é uma possibilidade. Vencer à qualquer custo e às custas de qualquer um. A luta por um lugar ao sol, sob as luzes dos holofotes.

Hell surge da convergência e entrecruzamento de dois universos coexistentes: o contexto social, cultural, e econômico do final do século XX e as inferências que emergem da memoria afetiva dos artistas co-criadores (deste trabalho) em relação à este período. A investigação desta dialógica vai ao encontro de problemáticas e desassossegos cotidianos, encontrando ecos e reverberações nos tratos contemporâneos por todos os lados.

A proposta da pesquisa dramatúrgica de Hell está alicerçada sobre três eixos principais: o Apocalipse -  que tem origem na atmosfera de decadência e temor com relação a possibilidade de finitude da raça humana, característico das últimas décadas do final do século XX; o Culto ao Corpo - que trata da busca e admiração pelo corpo escultural, super humano, jovem, belo, forte, atlético e os desdobramentos estéticos e  comportais como o uso dos excessos  (brilhos, cores berrantes, paetês) , e o corpo como mecanismo de sedução e erotização das relações e conquistas de espaços sociais; o Desbunde - fenômeno próprio do abrasileiramento, ou seja, a incorporação pela indústria cultural Brasileira (fonográfica, televisiva, cinematográfica) destes elementos.

Do ponto de vista estético, tal trabalho se refere à busca, nos elementos da indústria cultura massificadora, daquilo que se afirma e se interroga enquanto construção do corpo e da subjetividade, claramente marcada pela espetacularização da vida e das relações humanas, podendo fazer da experiência humana um simulacro de si mesma. A institucionalização do corpo como mercadoria, isto é, como instrumento de troca simbólica nas relações de poderes econômicos coloca-o na contramão de sua libertação enquanto modo de ser, coisificando-o aos níveis da sensualidade mais primitiva.

    Hell...  uma luta

de
Edson Calheiros e Elenita Queiroz
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EDSON CALHEIROS

Iniciou os estudos de dança e teatro em 1994. São mestres importantes em sua formação: Sacha Svletof, Ricardo Ordoñez, Geralda Bezerra, Débora Salgueiro, João Andreazzi, Ângela Nolf, Luís Fernando Bongiovanni, Sandro Borelli, Luís Louis e Antonio Januzelli.Atuou como intérprete nas companhias Corpos Nômades (2003-2005) e Borelli (2006-2009). Criou em 2005 o solo Recluso c.3.3. e em 2006 o duo Desculpe o transtorno para a Mostra O Masculino na Dança. Estreou em 2008 o solo Memorial do quarto escuro, com direção de Nana Pequini e premiação do ProAc 2007. No mesmo ano, dirigiu e atuou em Our Love is like the flowers, the rain, the sea and the hours, no coletivo Intermitente Abismo de Sonhos. Em teatro, participou dos espetáculos Pretexto, de Rui Ricardo Diaz (2005-2006) e do Grupo Engenho teatral (2009-2010). Trabalha desde 2009 em parceria com Robson Ferraz na Plataforma de Desvio de dança, tendo desenvolvido nela os projetos Pistilo, Ginástica Selvagem e Paper Dolls.




ELENITA QUEIROZ

Brasileira, 34 anos, graduada em dança pela Unicamp (2003) participou de residências artísticas no exterior (Djerassi Program - EUA, Movimiento en las Sierras - Argentina, Atlantic Center for the Arts - EUA), ocasiões nas quais trabalhou com profissionais como Sarah Shelton Mann, Sarah Skaggs, Eugénia Estevez, dentre outros. Em 2006 foi contemplada pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, com o projeto solo Dream - Se sonhando o corpo fosse.... Em 2007 foi laureada com Premio The Bessie Schunberg Memorial Endowed Fellowship, pelo trabalho desenvolvido em Djerassi Program - EUA. De 2005 a 2010 integrou o Grupo das Excaravelhas de dança contemporânea, com projetos contemplados por programas e prêmios como: Cultura Inglesa Festival, Caixa Cultural, Programa de Ação Cultural, Prêmio Funarte Petrobrás de Dança Klauss Vianna, dentre outros. Atuou como interprete criadora no Núcleo Mercearia de Ideias em As Filhas de Bernarda - 2009, Microbiografias Visíveis - 2012 e Nossos Sapatos - 2013 (Programa Municipal de Fomento à Dança de São Paulo), dirigidos pelo bailarino e coreografo Luiz Fernando Bongiovanni.  É integrante fundadora do grupo de experimentações cênicas Núcleo Mirada contemplado pelo Premio Funarte de Dança Klauss Vianna 2011/2012 com o trabalho Epifanias Urbanas e pelo Proac 08/2013 com o projeto Plataforma Cala, espetáculo CALA. Integra, juntamente com o artista Edson Calheiros, o projeto Hell's Dance Corporation. Dentre os trabalhos da artista destacam-se ainda Silêncios Humanos, (Programa de Residências Artísticas: Ongoing Artwork Projects - Obras em Construção, Espaço Cultural Casa das Caldeiras, 2012) e Particularidades Moveis (Novos Coreógrafos - Novas Criações Site Specific  2010,  Centro Cultural São Paulo). É coordenadora artístico-pedagógico no Programa Vocacional Dança (Secretaria de Cultura do Município de São Paulo) além de ministrar cursos, oficinas e workshops na linguagem de dança contemporânea.



CINTIA ALVES

Diretora teatral formada pela Universidade de São Paulo. Dramaturga com mais de 20 peças encenadas. Pós-graduada em Jogos Cooperativos. Jurada do Prêmio Jabuti em 2013. Dentre seus principais trabalhos e premiações estão: APCA de Melhor Direção em 1995 (PEDRO PAULO PEDREGULHO), Troféu Mambembe de Melhor Texto e Espetáculo em 1996 (UMA HISTÓRIA QUE A MANHÃ CONTOU AO TEMPO PARA GANHAR A ROSA AZUL), Prêmio Coca-Cola de Melhor Texto em 1998 (MOBY DICK) e Cultura Inglesa Festival em 2012 (FORA DO BUMBO – O MUSICAL). Esteve em cartaz no Teatro Popular do SESI Ruth Cardoso, em 2011, com o espetáculo AVALON, escrito em co-autoria com a atriz Lucélia Santos. Seus trabalhos mais recentes são a ocupação COISOLÂNDIA – LUGAR DE LIXO E AMOR no Centro Cultural São Paulo entre janeiro e março de 2014, um projeto de acessibilidade estética universal, e MUNDOMUDO com concepção de Jorge Vermelho e direção de Georgette Fadel, uma dramaturgia sem palavras.